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Desertora norte coreana fala sobre união e diversidade das Coreias



Lee Hyeonseo, desertora da Coreia do Norte e ativista de direitos humanos de destaque, é autora do livro de memórias "The Girl With Seven Names: A North Korean Defector's Story”. Em uma entrevista com o New York Times, ela conta sobre suas experiências do lado norte coreano e sua opinião sobre a união das Coreias.


“Os benefícios em longo prazo da reunificação compensam os custos financeiros, mas primeiro os coreanos do Norte e do Sul têm que aceitar uma sociedade inclusiva. Tendo crescido na Coreia do Norte, nos anos 80, fui doutrinada a acreditar que os sul-coreanos sofriam horrores sob seu governo, mas que com o apoio incondicional do povo norte-coreano, nosso ‘Querido Líder’ Kim Il-sung libertaria nossos vizinhos e reunificaria a Península Coreana. Quando adolescente, acabei conseguindo fugir da minha terra natal e descobri a verdade cruel - mas ainda alimento alguma esperança de que, um dia, viverei em uma Coreia unida e livre. Em 2015, depois de fazer uma palestra sobre a Coreia do Norte em Berlim, eu me vi ao lado de uma parte do muro. Comecei a conversar com uma mulher da antiga Alemanha Oriental que também estava ali e ela me falou da alegria surreal que tomou conta da cidade no dia da queda, em novembro de 1989, de como as pessoas começaram a se dirigir para a região para ver se o que parecia impossível até então tinha realmente acontecido. Muitas choravam de alegria ao ver que a delimitação que tinha dividido artificialmente o povo alemão por tanto tempo tinha finalmente sido destruída.


Quero desesperadamente que o povo coreano possa viver um momento semelhante. Jurei que, enquanto estivesse viva, ajudaria a remover a feia cicatriz que é a Zona Desmilitarizada (DMZ), linha que divide a Península Coreana e seu povo em dois. Apesar do otimismo renovado por uma reconciliação entre o Norte e o Sul depois dos encontros recentes entre os líderes das duas nações, a perspectiva da reunificação ainda é remota.”


Hyeonseo comenta que uma das principais razões seria o imenso fardo econômico que seria imposto à Coreia do Sul, que, com base em algumas estimativas, o custo pode ficar entre US$ 1 trilhão e US$ 3 trilhões. Outro ponto também seria a ampliação das diferenças culturais e econômicas resultantes de mais de 70 anos de divisão, tempo que diminuiu a importância da herança étnica comum, levando alguns coreanos de ambos os lados da DMZ a rejeitar a ideia de uma identidade nacional unificada.


Apesar desses desafios, os benefícios econômicos e de segurança em longo prazo superam, e muito, os custos de curto prazo da reunificação. Hyeonseo acredita que com capital e a tecnologia do Sul, combinados aos recursos naturais e à imensa mão de obra do Norte, criariam oportunidades econômicas significativas para a península. Sem contar que um país unificado também teria um exército mais forte.


Embora seja otimista em alguns aspectos, ela comenta: “Infelizmente, há outro obstáculo que seria a incrível falta de tolerância generalizada em toda a península. Mesmo depois de os desertores do Norte terem denunciado o regime e assumido a vida no Sul, muitos sul-coreanos ainda se recusam a aceitá-los, sujeitando-os ao bullying, ao ostracismo e outras formas de maus-tratos. O resultado é que tiveram que criar escolas separadas para ajudar os jovens nortistas a se ajustar à nova vida, até mesmo os adultos acabam sofrendo discriminação e isolamento social no ambiente de trabalho. Um estudo feito este ano concluiu que ‘comportamentos e pensamentos suicidas’ são mais comuns entre os trânsfugas norte-coreanos do que na população sul-coreana em geral. Infelizmente o fato é que, se fosse o contrário, os sulistas provavelmente enfrentariam o mesmo tipo de tratamento. Na Coreia do Norte, onde o cidadão médio não tem praticamente nenhuma interação com estrangeiros ou exposição a outras culturas, o racismo e a xenofobia são arraigados e explícitos, em uma hostilidade que alcança todos os níveis da sociedade. Os defensores mais ferrenhos do regime, por exemplo, referiam-se ao ex-presidente norte-americano Barack Obama como ‘macaco negro perverso’ durante seu segundo mandato”.


Hyeonseo comenta que como os sul-coreanos também podem ser hostis com estrangeiros dando o exemplo da chegada de centenas de iemenitas requerentes de asilo à ilha de Jeju, que gerou fortes protestos baseados em parte no temor pelo aumento da criminalidade, a disputa pelo mercado de trabalho e as diferenças culturais. Milhares pediram ao governo, em um abaixo-assinado, a rejeição aos refugiados.


Ela ainda completa: “Os ancestrais que lutaram pela nossa liberdade nos deixaram um legado de sacrifício. Precisamos fazer o mesmo para as gerações futuras, fazendo o que for necessário para criar uma Coreia unida e receptiva, que todos os coreanos - e também aqueles que estão fugindo de qualquer tipo de conflito - possam chamar de lar.”



Matéria por: Fernanda de Sousa.

Não retirar sem os devidos créditos.


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